jueves, 25 de marzo de 2010

Imaginemos viver hoje o tempo passado

Imaginemos hoy vivir los tiempos de antes en portugués.

Tarde me di cuenta, fuimos la esperanza, nada queda ya... canta o sobrevivente de um tempo melhor. Os títulos e letras falam por si, o tango se conjuga no passado.
Lembranças, cicatrizes, marcas de amores perdidos.
Hoy vas a entrar em mi pasado... no habra ninguna igual... nos colocam frente ao irreparável. Existe um último exemplar de cada coisa que se acaba: el último café,
organito ou farol andam de mãos dadas com la última curda, el último guapo e la última grela.
Saudades de los dieciocho años ou quince abriles mesclam-se com o culto ao antigo: viejo coche, viejo smoking, viejo Tortoni. Também a vieja luna e a vieja recova.
Porém se o passado está nas letras, o futuro está na dança. Ante o espanto dos milongueiros de sempre, os novos chegam ao tango para fugir da solidão, encontrar parceria, fazer amigos ou simplesmente porque está na moda.
Graças a eles abrem-se novas milongas e melhoram as antigas. Inauguram-se cursos e academias, criando postos de trabalho para veteranos ejovens dançarinos.
E na milonga as ilusões substituem as lembranças. Ali reinam as expectativas, modestas ou desmedidas, começando pela de aprender a dançar. Mas nada é possível sem pagar o direito de pista.
Depois de vários meses de aulas, escoltada pela amiga mais experiente (já foi duas vezes), ela se anima a debutar na milonga. Se não se der bem, vai ter que aturar o colega de aula que dança menos. Ou o veterano que se acha professor e a ensina enquando dançam. Se tiver sorte, será iniciada por um homem carinhoso e compreensivo. Isto é fundamental porque, como toda mulher sabe, a primeira vez pode ser traumática. A partir daquela noite, estará eternamente condenada às expectativas.
Tomara que não chova ou que não anunciem novas medidas econômicas, assim os homens não ficam em casa. Que não haja partida de futebol, já que os clássicos costumam esvaziar as pistas. Tomara que não venha a namorada do fulano, assim ele dança comigo como na outra noite.
O homem também vai debutar, um dia. Seus nervos lembram outras provas decisivas de sua vida de macho. Escolhe uma mulher e a encara com tanto pânico e vergonha como daquela vez. A moça o ignora sem compaixão. No melhor dos casos, encontra uma conhecida que o salva da humilhação. Vai para a pista contando os oito passos do básico e, ao iniciar a seqüência que aprendeu na última aula, abalroa o casal da frente, tenta retroceder e bate no de trás. A metade da tanda ele tem a impressão que todos olham para ele e deseja ardentemente que o chão o engula.
Com o tempo aprenderá a reconhecer as boas dançarinas e esperar que ninguém as tire até a metade da tanda para ter sua oportunidade. Finalmente cada um irá construindo sua carreira de dançarino, feita de histórias passadas, experiências presentes e promessas futuras. Terão conseguido um clube para pertencer, um esporte para muitos anos, um culto para seguir, algumas feridas de guerra, um bom calo plantar, uma fama bem cultivada. Vários inimigos mortais, um amigo do peito, ex-parceiros, ex-amantes... e sempre mais expectativas.